Como descartar resíduos laboratoriais corretamente
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O descarte adequado de resíduos é uma etapa essencial no funcionamento de qualquer laboratório da área da saúde e das análises clínicas. Essa prática vai além da simples eliminação de materiais: ela está diretamente ligada à prevenção de riscos à saúde ocupacional, à proteção do meio ambiente e ao cumprimento das legislações sanitárias.
No ambiente laboratorial, diversos tipos de resíduo são gerados diariamente — como os biológicos, químicos, radioativos, perfurocortantes, recicláveis e comuns —, cada um com características e exigências específicas de manuseio e descarte. Conhecer essas classificações e adotar boas práticas de gerenciamento é fundamental para garantir a segurança, a conformidade regulatória e a sustentabilidade das operações.
Classificação dos resíduos em laboratórios de saúde e análises clínicas
A Anvisa, por meio da RDC nº 222/2018, define as diretrizes para o gerenciamento dos Resíduos de Serviços de Saúde (RSS), que são classificados em diferentes grupos de acordo com suas características e riscos.
Grupo A – Resíduos Biológicos ou Infectantes
Resíduos que contêm agentes biológicos capazes de causar infecções. São originados de materiais com presença de sangue, fluidos corporais, culturas microbiológicas e outros elementos com potencial infectante.
Exemplos: sangue, hemoderivados, secreções, tecidos, culturas de microrganismos, filtros de papel contaminados, meios de cultura, bolsas transfusionais usadas, materiais descartáveis contaminados com sangue (como gazes, compressas, aventais) e resíduos de laboratório de análises clínicas com risco biológico.
Descarte correto:
- Devem ser acondicionados em sacos brancos leitosos identificados com o símbolo de risco biológico.
- Devem ser submetidos a tratamento (como autoclavação ou incineração) antes da destinação final.
- Transporte deve ser feito por empresa licenciada.
Grupo B – Resíduos Químicos
Compostos por substâncias químicas perigosas que oferecem risco à saúde ou ao meio ambiente.
Exemplos: reagentes de laboratório, solventes, corantes, metais pesados, produtos de limpeza corrosivos, resíduos de desinfetantes, medicamentos vencidos ou contaminados, pilhas, baterias e lâmpadas fluorescentes.
Descarte correto:
- Armazenados em frascos compatíveis com o produto e devidamente rotulados com o nome da substância, risco associado e data de geração.
- Nunca devem ser descartados na pia ou no lixo comum.
- Devem ser armazenados em local seguro até a coleta por empresa licenciada.
- O gerador é responsável pelo manifesto de transporte e tratamento adequado (neutralização, incineração, entre outros).
Grupo C – Rejeitos Radioativos
Resíduos contendo radionuclídeos em quantidades superiores aos limites de dispensa definidos pela CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear).
Exemplos: materiais provenientes de exames de medicina nuclear, radioterapia, kits de diagnóstico com marcadores radioativos, seringas e frascos utilizados em procedimentos radioativos.
Descarte correto:
- Devem ser armazenados em recipientes blindados, em locais devidamente sinalizados e de acesso restrito.
- Necessitam de decaimento radioativo em área controlada, conforme normas da CNEN.
- O transporte deve ser feito por empresa licenciada e especializada.
- O destino final deve obedecer aos critérios da CNEN para segurança radiológica.
Grupo D – Resíduos Comuns
Sem risco biológico, químico ou radiológico, similares aos domiciliares. Devem ser recicláveis sempre que possível.
Exemplos: papel, papelão, plástico limpo, copos descartáveis, embalagens não contaminadas, restos de alimentos, resíduos de jardinagem e material de varrição.
Descarte correto:
- Podem ser descartados em sacos de lixo comuns, preferencialmente coloridos para facilitar a coleta seletiva.
- Devem ser separados dos demais resíduos perigosos.
- Sempre que possível, encaminhar para coleta seletiva ou programas de reciclagem.
Grupo E – Resíduos Perfurocortantes
Materiais que podem perfurar ou cortar, contaminados ou não, e que representam risco físico.
Exemplos: agulhas, bisturis, ampolas, lâminas de microscopia, vidrarias quebradas, micropipetas danificadas, pontas de pipeta e qualquer material que possa causar perfuração ou corte.
Descarte correto:
- Devem ser descartados imediatamente após o uso em recipientes rígidos, resistentes à punctura e à prova de vazamentos, como caixas perfurocortantes.
- Os recipientes devem estar devidamente identificados com o símbolo de risco biológico (se contaminados).
- Após o preenchimento de 2/3 do volume, os coletores devem ser fechados e encaminhados para tratamento adequado (incineração ou outro autorizado).
Resíduos Recicláveis
Podem ser reaproveitados por cooperativas ou empresas de reciclagem, desde que não estejam contaminados com agentes biológicos, químicos ou radioativos.
Exemplos: embalagens de papelão, frascos de vidro, plásticos limpos e secos, metais (como tampas e latas).
Descarte correto:
- Devem ser acondicionados limpos e secos em recipientes identificados como recicláveis.
- É importante realizar a triagem no momento da geração para evitar contaminação cruzada.
- Devem ser encaminhados a empresas ou cooperativas especializadas em reciclagem.
Grupo | Tipo de Resíduo | Exemplos | Descarte Correto |
A | Biológicos ou Infectantes | Sangue, tecidos, culturas microbiológicas, materiais contaminados | Sacos brancos leitosos com símbolo biológico; tratamento (autoclavação/incineração); empresa licenciada |
B | Químicos | Reagentes, solventes, corantes, metais pesados, desinfetantes | Frascos compatíveis e rotulados; armazenar em local seguro; coleta por empresa licenciada |
C | Radioativos | Resíduos de medicina nuclear, kits com marcadores radioativos | Recipientes blindados; área controlada; normas da CNEN; transporte especializado |
D | Comuns | Papel, embalagens limpas, restos de alimentos | Sacos comuns, preferencialmente coloridos; coleta seletiva ou reciclagem |
E | Perfurocortantes | Agulhas, lâminas, vidrarias quebradas | Caixas rígidas resistentes à punctura; símbolo biológico (se contaminado); tratamento adequado |
— | Recicláveis | Papelão, vidro, plásticos limpos, metais | Separação na origem; acondicionar limpos/secos; encaminhar a cooperativas ou empresas recicladoras |
Boas práticas no gerenciamento de resíduos
A adoção de boas práticas no gerenciamento de resíduos laboratoriais é essencial para minimizar riscos à saúde, proteger o meio ambiente e manter a conformidade com as normas sanitárias. Algumas ações-chave incluem:
- Segregação na fonte: Os resíduos devem ser separados no exato momento em que são gerados, de acordo com sua classificação (biológico, químico, comum, perfurocortante etc.). Isso evita contaminações cruzadas e facilita o descarte correto.
- Uso adequado de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs): Luvas, aventais, máscaras e óculos de proteção são indispensáveis durante a manipulação e descarte dos resíduos. O uso correto desses itens reduz o risco de acidentes e exposição a agentes perigosos.
- Armazenamento temporário apropriado: Os resíduos devem ser armazenados provisoriamente em locais específicos, ventilados, sinalizados e com acesso restrito, até a coleta por empresa licenciada. É fundamental respeitar os prazos máximos de armazenamento, conforme legislação.
- Identificação clara e padronizada: Todos os recipientes devem conter rótulos legíveis com a descrição do tipo de resíduo, data de geração, risco associado e outras informações exigidas pelas normas. A rotulagem correta é essencial para garantir segurança e rastreabilidade.
- Implantação de um PGRSS: O Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde é um documento obrigatório que descreve todas as etapas do manejo de resíduos, desde a geração até a disposição final. Ele deve ser elaborado por um profissional habilitado e seguido rigorosamente por toda a equipe.
- Capacitação contínua da equipe: A realização de treinamentos periódicos é essencial para manter todos os colaboradores atualizados quanto aos procedimentos de descarte e às normas vigentes. A conscientização coletiva é um dos pilares para a eficácia do gerenciamento.
Consequências do descarte inadequado
Ignorar as normas e procedimentos corretos para o descarte de resíduos laboratoriais pode gerar sérios impactos para a saúde pública, o meio ambiente e a própria instituição. Entre as principais consequências, destacam-se:
- Contaminação ambiental: O descarte incorreto de resíduos pode levar à poluição do solo, da água e até mesmo do ar, especialmente no caso de substâncias químicas ou agentes biológicos patogênicos.
- Riscos à saúde humana: Funcionários, pacientes e membros da comunidade podem ser expostos a infecções, intoxicações e lesões físicas causadas por contato direto com resíduos contaminados ou perfurocortantes.
- Infrações legais: O não cumprimento das exigências legais pode resultar em advertências, multas elevadas, interdição do serviço ou outras sanções impostas pelos órgãos fiscalizadores (como a Anvisa, Ibama e secretarias de meio ambiente).
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