Citopatologia: Sua Importância na Prevenção do Câncer de Colo de Útero
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A Citopatologia é uma técnica bem conhecida e utilizada há mais de 50 anos, sendo empregada com sucesso na prevenção e no diagnóstico do câncer de colo do útero, assim como de outras doenças não ginecológicas.
Foi introduzida na década 1940, pelo médico grego Dr. George Papanicolaou, como uma ferramenta para a detecção precoce do câncer do colo do útero, através da observação da morfologia das células pré-neoplásicas e malignas. É considerado um método eficiente, rápido, de baixo custo, pois consegue identificar lesões precursoras do câncer do colo do útero, que neste momento são tratáveis, podendo resultar em significante decréscimo da mortalidade por esse tipo de câncer.
Câncer de Colo de Útero
O câncer cervical ou câncer de colo de útero, está entre os tipos mais comuns de doenças malignas ginecológicas. Responsável por aproximadamente 265 mil óbitos de mulheres por ano, o câncer de colo de útero ocupa a 4ª posição no ranking de mortes deste público por câncer.
Sabe-se que a infecção pelo HPV é comprovadamente uma condição necessária para o desenvolvimento do câncer de colo uterino e um importante fator desencadeante para outros tipos de câncer.
Existe uma fase inicial ou pré-clínica do câncer do colo do útero, em que a detecção de lesões precursoras pode ser feita através do exame preventivo conhecido como papanicolau. Quando diagnosticado na fase inicial, as chances de cura do câncer cervical são de 100%. No início a doença é silenciosa e eventos como sangramento vaginal, corrimento e dor só aparecem em fases mais avançadas.
Citopatologia
Citopatologia é a ciência que estuda as doenças através das modificações celulares, considerando as suas características citoplasmáticas e nucleares. O primeiro teste de citopatologia desenvolvido foi o teste de papanicolau, conhecido também como colpocitologia oncótica ou citologia cervical.
Por se tratar de um procedimento diagnóstico não invasivo sem complicações para a paciente, além do seu baixo custo e alta eficácia diagnóstica, a citopatologia é considerada o método de eleição no rastreamento do câncer cervical.
Fatores que podem afetar a qualidade do exame citopatológico
Recomendações prévias à mulher:
- Não fazer uso de lubrificantes, duchas vaginais, espermicidas, medicamentos vaginais e exames intravaginais 48h antes da coleta;
- O exame não deve ser feito no período menstrual. Deve-se aguardar o quinto dia após o término da menstruação para coleta;
- Evitar relações sexuais 48h antes da coleta;
- No caso de sangramento vaginal anormal, o exame ginecológico é mandatório e a coleta, se indicada, pode ser realizada.
Citopatologia: Coleta das Amostras
Materiais
Antes da coleta, todo o material deve estar disponível e de fácil acesso. Devem ser disponibilizadas lâminas de vidro identificadas com as iniciais e/ ou número de registro da paciente (extremidade fosca da lâmina), previamente limpas e desengorduradas com gaze umedecida com álcool. Para a coleta, são necessárias espátula de Ayre para a colheita das amostras da ectocérvice e da vagina através de “raspados” e escova cervical para a colheita da endocérvice. Deve ser acessíveis ainda, fixador citológico, para obter a fixação imediata dos esfregaços (etanol a 95-96% ou spray de polietilenoglicol), e um frasco porta lâminas, para armazenamento e transporte da lâmina.
Coleta na ectocérvice
Antes da coleta, pode-se limpar o colo do útero com um algodão ou gaze para a retirada do excesso de muco, secreção ou sangue. Para a coleta no ectocérvice utiliza-se espátula de Ayre, do lado que apresenta reentrância. Encaixar firmemente a ponta mais longa da espátula no orifício externo do colo, fazendo um movimento rotativo de 360°, para que toda superfície do colo seja raspada e representada na lâmina (A). A pressão exercida deve ser firme, mas delicada, sem agredir o colo. A amostra ectocervical deve ser disposta no sentido transversal, na metade superior da lâmina, próximo da região fosca, previamente identificada.
Coleta no endocérvice
Utiliza-se a escova cervical. Recolher o material introduzindo todas as cerdas da escova no canal endocervical e fazer um movimento giratório de 360° (B). O material retirado da endocérvice deve ser colocado na porção mais distante da região fosca da lâmina, no sentido longitudinal girando a escova conforme desliza pela lâmina.
Colheita tríplice
A chamada colheita tríplice foi preconizada há longos anos e ainda é utilizada em muitos serviços. Nesta modalidade de coleta, são obtidas amostras do fundo de saco posterior da vagina, da ectocérvice e da endocérvice.
A coleta do fundo de saco posterior da vagina é particularmente importante nas mulheres peri e pós-menopausadas, uma vez que o fundo de saco vaginal pode ser um reservatório de células malignas originadas especialmente de tumores do endométrio, do ovário e das trompas (C e D).
Apesar das vantagens atribuídas à colheita tríplice, o Instituto Nacional do Câncer (Inca) recomenda apenas a colheita dupla (ectocérvice e endocérvice), uma vez que o objetivo do exame é o rastreio das lesões pré-cancerosas do colo.
Fixação do Material na Lâmina
As amostras devem ser espalhadas na mesma lâmina de vidro de modo delicado e rápido, confeccionando-se esfregaços finos e uniformes. A pressão excessiva na confecção do esfregaço pode resultar no esmagamento e na distorção das células. Por outro lado, a demora na fixação da amostra pode levar à dessecação com alterações celulares degenerativas. Especial cuidado deve ser tomado com amostras do endocervical, já que as células glandulares dessa mucosa são mais frágeis e suscetíveis a degradação.
Fixação dos Esfregaços Citológicos
A fixação dos esfregaços é um ponto importante desse exame, pois falhas nesse processo podem levar a erros no resultado. O etanol a 95-96% é o fixador de rotina devido a sua eficiência, baixo custo e ausência de toxicidade. A lâmina com a amostra deve ser imediatamente imersa em um frasco porta lâminas contendo o etanol por no mínimo 20 minutos, podendo permanecer imerso até o momento da coloração, desde que não ultrapasse duas semanas. Outra forma de fixação é utilizando polietilenoglicol em spray, diretamente na lâmina imediatamente após a coleta. Após a fixação, a lâmina deve ser acondicionada em um frasco porta lâminas e enviada ao laboratório para que o processo de coloração e leitura seja realizado.
Coloração das amostras citológicas
O método de coloração foi elaborado pelo próprio Papanicolaou, com várias modificações ao decorrer dos anos. Consiste na aplicação de um corante nuclear, a hematoxilina, e dois corantes citoplasmáticos, o Orange G6 e o EA (eosina, verde-luz ou verde-brilhante e pardo de Bismarck). A hematoxilina cora o núcleo em azul. O verde-brilhante cora o citoplasma em verde-azul das células escamosas parabasais e intermediárias, células colunares e histiócitos. A eosina cora em rosa o citoplasma das células superficiais, nucléolos, mucina endocervical e cílios. O Orange G6 cora as hemácias e as células queratinizadas em laranja-brilhante. Após a coloração do esfregaço segue-se a etapa conhecida como clareamento, que promove a transparência celular. O xilol, um solvente orgânico, é utilizado para esse fim.
Conheça as linhas
Referências:
- Caderno de referência 1: Citopatologia Ginecológica – André Luiz de Souza Barros, Daisy Nunes de Oliveira Lima, Michelle Dantas Azevedo, Micheline de Lucena Oliveira – Brasília: Ministério da Saúde; Rio de Janeiro: CEPESC, 2012. http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/tecnico_citopatologia_caderno_referencia_1.pdf
- http://laboratorioduarte2014.masterix2.com.br/uploads/laboratorio_duarte_2014/arquivos/lab-com-coleta-de-amostras-para-o-papanicolaou-ago-2017.pdf
- https://kasvi.com.br/papanicolau-citopatologia/
- https://www.eurocytology.eu/pt/course/1119
- E-Book HPV e Câncer – Como o diagnóstico molecular pode ser fundamental no rastreamento da doença – Mobius – 2021
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