Como a hemólise afeta seus resultados laboratoriais
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A hemólise é um fenômeno amplamente estudado na medicina laboratorial, pois pode comprometer a precisão dos exames e levar a diagnósticos incorretos. Neste artigo, abordaremos desde a definição do processo hemolítico até seu impacto nas análises clínicas e estratégias para minimizar sua ocorrência.
O que é hemólise?
A hemólise é a ruptura dos eritrócitos/hemácias (glóbulos vermelhos), resultando na liberação da hemoglobina e outros componentes intracelulares no plasma ou soro sanguíneo. Esse processo pode ocorrer in vivo, devido a condições patológicas, ou in vitro, quando a ruptura ocorre durante a coleta, armazenamento ou manipulação da amostra no laboratório.
A presença de hemólise interfere em diversos exames laboratoriais, principalmente aqueles que utilizam soro ou plasma, já que os componentes celulares liberados podem reagir com reagentes analíticos, alterar concentrações de biomarcadores e comprometer a interpretação dos resultados.
Causas
Pode ser desencadeada por diversos fatores, que podem ser divididos em causas pré-analíticas, analíticas e pós-analíticas:
1. Causas Pré-Analíticas (Hemólise In Vitro)
O principal fator de interferência laboratorial ocorre durante a fase pré-analítica, incluindo:
- Coleta inadequada: Uso de agulhas de diâmetro muito fino (calibres elevados) pode gerar pressão excessiva nos eritrócitos, provocando a ruptura.
- Aspiração excessiva do sangue: O uso de seringas com pressão negativa exagerada pode causar lise celular.
- Transporte inadequado da amostra: Agitação vigorosa do tubo de ensaio pode danificar as membranas celulares.
- Uso de anticoagulantes inadequados: Alguns anticoagulantes, como EDTA em excesso, podem causar fragilidade osmótica e hemólise.
- Armazenamento impróprio: Exposição da amostra a temperaturas extremas ou tempos prolongados antes da centrifugação pode levar à degradação celular.
2. Causas analíticas e pós-analíticas
- Processamento inadequado da amostra: Centrifugação em velocidades inadequadas ou por tempo excessivo pode induzir hemólise.
- Reagentes incompatíveis: Alguns reagentes laboratoriais podem interagir com a membrana eritrocitária, causando lise.
Doenças e medicamentos relacionados (hemólise in vivo)
A hemólise in vivo está associada a condições patológicas e pode ser consequência de doenças hematológicas, autoimunes, infecciosas e metabólicas.
Principais doenças associadas:
- Anemias hemolíticas (hereditárias e adquiridas): Exemplo: Esferocitose hereditária, deficiência de G6PD e anemia falciforme.
- Doenças autoimunes: Anemia hemolítica autoimune por anticorpos quentes ou frios.
- Infecções: Malária e septicemia por Clostridium perfringens.
- Doenças hepáticas e renais: Insuficiência hepática grave pode alterar a integridade eritrocitária.
Medicamentos que podem induzir hemólise:
- Dapsona e Primaquina: Associados a hemólise em pacientes com deficiência de G6PD.
- Cefalosporinas: Podem causar hemólise imune induzida por fármacos.
- Rifampicina: Associada a reações hemolíticas.
Como identificar a hemólise em amostras laboratoriais?
A identificação é feita visualmente e por meio de análises laboratoriais. Após a centrifugação, o plasma ou soro pode apresentar coloração rosada a avermelhada, dependendo da gravidade da hemólise.
A escala laboratorial de hemólise classifica a amostra de acordo com a intensidade da coloração:
Grau | Descrição | Impacto nos exames |
---|---|---|
0 (Ausente) | Soro/plasma límpido, sem coloração avermelhada. | Sem interferência. |
1+ (Discreta) | Soro/plasma levemente rosado. | Interferência mínima. |
2+ (Moderada) | Soro/plasma rosado a avermelhado. | Pode afetar exames bioquímicos. |
3+ (Intensa) | Soro/plasma vermelho claro. | Compromete resultados laboratoriais. |
4+ (Grave) | Soro/plasma vermelho escuro. | Alta interferência analítica. |
5+ (Muito grave) | Soro/plasma extremamente vermelho e opaco. | Resultados inviáveis. |

Consequências laboratoriais
A hemólise pode interferir em diversas análises clínicas, principalmente naquelas que avaliam componentes bioquímicos do sangue.
1. Exames bioquímicos:
- Potasio (K+): Valores falsamente elevados (pseudohipercalemia).
- LDH e AST: Liberadas pelos eritrócitos, podendo gerar resultados artificialmente aumentados.
- Bilirrubina: Interferência óptica na espectrofotometria.
2. Exames hematológicos:
- Contagem de hemácias: Pode ser subestimada.
- Índices hematimétricos (VCM, HCM): Podem ser alterados devido à lise celular.
3. Exames imunológicos e de coagulação:
- Coagulograma: Hemólise pode afetar tempo de protrombina (TP) e tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPA).
- Imunodosagens: A presença de hemoglobina livre pode interferir em leituras espectrofotométricas.
Boas práticas para evitar a hemólise
A adoção de protocolos rigorosos na fase pré-analítica reduz significativamente a incidência de hemólise in vitro. Algumas recomendações incluem:
- Utilizar agulhas de calibre adequado para coleta venosa.
- Evitar aspiração excessiva do sangue com seringas.
- Homogeneizar suavemente os tubos com anticoagulante.
- Realizar centrifugação adequada, evitando velocidades excessivas.
- Transporte das amostras sem agitação brusca.
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